ESCRITA-FIAÇÃO:
o escrever como um modo de existir
artífice
RESUMO
O
projeto apresenta uma proposta de pesquisa junto ao Instituto de Educação, da
Universidade de Lisboa, Portugal, como parte do PROGRAMA INSTITUCIONAL DE
DOUTORADO SANDUÍCHE NO EXTERIOR (PDSE), da CAPES. A proposta objetiva a
ampliação dos estudos em uma importante face da pesquisa de doutoramento em
curso, com a orientação do Prof. Dr. Jorge Ramos do Ó, conceituado pesquisador
em Educação. Tomando por base as principais reflexões de Gilles Deleuze, Michel
Foucault, Roland Barthes e Michel de Certeau sobre o ato de escrever, os
estudos pretendem aprofundar a relação entre os modos de vida artífice e os
modos de escrita, na investigação dos processos de subjetivação. Uma abertura à
escuta do campo de pesquisa, apreciando a potência que se mostra e se inventa nas
relações de um corpo-fazedor que escreve. Como parte do projeto submetido ao
processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFJF: O EDUCADOR-APRENDIZ E A APRENDIZAGEM DO
CORPO: cartografias de uma oficina de fiação manual com professores, suas
memórias da escola e registros nos cadernos-diários, o estágio favorece o
adensamento da discussão teórica, tematizada na escrita de si, tal como
formulada por Foucault, e permite o contato direto com a cultura da fiação
artesanal, ainda viva em Portugal. A participação nos seminários de orientação
“Pós-estruturalismo e escrita cientifica”, conduzidos pelo Prof. Jorge Ramos do
Ó, possibilitará o aprofundamento da discussão acerca do pesquisar na imanência
e sua escrita, iniciada desde o Projeto de Qualificação.
Palavras-chave: educação, escrita, leitura,
pesquisa, artes-manuais, artes.
SUMÁRIO
1
|
SÚMULA.......................................................................................................
|
6
|
2
|
CRONOGRAMA
DE ESTUDO E PESQUISA...........................................
|
7
|
2.1
|
Setembro.......................................................................................................
|
7
|
2.1.1
|
Escrita
de Segunda Qualificação ................................................................
|
7
|
2.1.2
|
Campo............................................................................................................
|
7
|
2.2
|
Outubro.........................................................................................................
|
7
|
2.2.1
|
Escrita
de Segunda Qualificação ................................................................
|
7
|
2.2.2
|
Campo............................................................................................................
|
7
|
2.3
|
Novembro......................................................................................................
|
7
|
2.3.1
|
Escrita
de Segunda Qualificação ...............................................................
|
7
|
2.3.2
|
Campo............................................................................................................
|
7
|
2.4
|
Dezembro
......................................................................................................
|
8
|
2.4.1
|
Escrita
de Segunda Qualificação ...............................................................
|
8
|
2.4.2
|
Campo............................................................................................................
|
8
|
2.5
|
Janeiro...........................................................................................................
|
8
|
2.5.1
|
Escrita
de Segunda Qualificação ................................................................
|
8
|
2.5.2
|
Campo............................................................................................................
|
8
|
2.6
|
Fevereiro........................................................................................................
|
8
|
2.6.1
|
Escrita
de Segunda Qualificação ................................................................
|
8
|
2.6.2
|
Campo............................................................................................................
|
8
|
2.6.3
|
Entrega
relatório de estágio de Programa Institucional de Doutorado Sanduíche No
Exterior (Pdse).....................................................................
|
8
|
3
|
ASPECTOS
DA INVESTIGAÇÃO DO GRUPO DE PESQUISA PORTUGUÊS EM INTERFACE COM O PROJETO DE
DOUTORADO EM CURSO
................................................................................................
|
9
|
3.1
|
Objetivo.......................................................................................................
|
9
|
3.2
|
Justificativa...................................................................................................
|
9
|
3.3
|
Conteúdo
.......................................................................................................
|
10
|
3.3.1
|
A gramática... ...............................................................................................
|
10
|
3.3.2
|
Discurso ........................................................................................................
|
10
|
3.3.2.1
|
A escrita e o poder (Foucault,
Barthes e Certeau) .........................................
|
10
|
3.3.2.2
|
Produção do discurso... ................................................................................
|
10
|
3.3.3
|
Redes e dependências
intradiscursivas...........................................................
|
10
|
3.3.4
|
A reconstrução de uma formação
discursiva (Foucault) ................................
|
10
|
3.3.5
|
A constituição do arquivo... .........................................................................
|
10
|
3.3.6
|
Disciplina versus ciência...
...........................................................................
|
10
|
3.3.7
|
O comentário: as narrativas
maiores... ..........................................................
|
11
|
3.3.8
|
Antinomias do falar e do
escrever (Certeau) .................................................
|
11
|
3.3.9
|
As antinomias do ler e do escrever
(Barthes e Blanchot)
..............................
|
11
|
3.3.9.1
|
Autor .............................................................................................................
|
11
|
3.3.9.1.1
|
O autor como princípio de
agrupamento/unidade/origem/coerência .............
|
11
|
3.3.9.2
|
Prática Oficinal .............................................................................................
|
11
|
3.3.9.2.1
|
A compreensão complexa da
importância do estilo nas ciências humanas ...
|
11
|
3.3.9.2.2
|
A relação docente numa lógica
de encadeamento permanente de textos ......
|
11
|
3.3.9.2.3
|
O método como uma utopia da
linguagem e a assunção de uma escrita insistente, elíptica e canibal... .......................................................................
|
11
|
3.3.9.2.4
|
O seminário como setting e
modelo objectivado da crítica ao modelo centrado na
leitura-apropriação-comentário das metanarrativas. .................................
|
11
|
3.3.9.2.5
|
A escrita bífida e a inversão
da hierarquia fala/escrita (Derrida)
...................
|
11
|
3.3.9.2.6
|
A escrita e a exigência da
descontinuidade. A lei do crescimento da obra.....
|
11
|
3.3.9.2.7
|
Questionar é jogar-se na
questão (Blanchot)
..................................................
|
11
|
3.3.9.2.8
|
O processo de escrita como
entrada no jogo da différance. ..........................
|
11
|
3.3.10
|
Composição, encenação e
compreensão do que não posso prever: a herança e o porvir como limiares da
investigação crítica (Derrida) ..................................
|
11
|
3.3.10
|
Uma escrita a duas mãos: o Anti-Édipo
de Deleuze-Guattari .......................
|
12
|
3.3.11
|
A escrita como um trabalho do
significante, da frase e da palavra e do limite ....
|
12
|
3.3.12
|
Endereço e destino .......................................................................................
|
12
|
3.3.13
|
A vida como obra de arte
(Foucault, Deleuze)
.............................................
|
12
|
3.4
|
Bibliografia
do curso em Portugal .............................................................
|
12
|
4
|
A
DIAGONAL PESQUISAR ENTRE A LEITURA A ESCRITA, UMA INTRODUÇÃO ÀS INQUIETAÇÕES
......................................................
|
14
|
4.1
|
Por
que fiação? ............................................................................................
|
15
|
4.2
|
Incômodos
de um pesquisar
......................................................................
|
15
|
5
|
ESCREVER
ÀS VEZES É DISSOLVER-SE NA ESCRITA: TUDO O QUE NÃO SEI É MINHA VERDADE
......................................................
|
17
|
6
|
LEITURA
SENSAÇÃO
..............................................................................
|
18
|
7
|
QUE
INVENTA A LEITURA ....................................................................
|
21
|
7.1
|
Poderia
uma leitura ser inventada?
............................................................
|
22
|
7.2
|
Leitura-experiência: máximo de intensidade .............................................
|
22
|
7.3
|
Leitura-dispositivo:
múltiplos agoras .........................................................
|
23
|
7.4
|
Leitura-dobras:
abrigos provisórios...........................................................
|
24
|
7.5
|
Leitura-eros
e logos: fluídos corpóreos.......................................................
|
24
|
7.6
|
Leitura-cenários
e vozes: investigações......................................................
|
26
|
8
|
ESCREVER
É PROCURAR ENTENDER.................................................
|
27
|
8.1
|
Os
vestidos de Maria Amália........................................................................
|
27
|
9
|
FIAR
A ESCRITA, TECER A ESCRITA, BORDAR A ESCRITA ..........
|
29
|
9.1
|
Fazendo-me
ao me desfazer: escrita de si ou escrita do eu? ....................
|
30
|
10
|
FUI
AO ARMARINHO: HÁ DE SE FALAR DE UMA METODOLOGIA .
|
32
|
10.1
|
Qualquer
entrada é possível: desde que as saídas sejam múltiplas............
|
33
|
REFERÊNCIAS
...........................................................................................
|
35
|
1 SÚMULA
Projeto de pesquisa
em curso: O
EDUCADOR-APRENDIZ E A APRENDIZAGEM DO CORPO: cartografias de uma oficina de
fiação manual com professores, suas memórias da escola e registros nos
cadernos-diários.
Proposta: Doutorado intercalar junto ao Instituto de Educação, da Universidade de Lisboa.
Docente
coorientador no exterior: Prof. Dr. Jorge Ramos do Ó.
Minicurrículo do
coorientador: Professor
do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e pesquisa temáticas
relacionadas ao campo da História da Educação e da Pedagogia, da História da
Cultura e da Teoria do Discurso de Michel Foucault. Publicações Ensino liceal (1836-1975). Lisboa:
Ministério da Educação, 2009. Emergência
e circulação do conhecimento psicopedagógico moderno (1880-1960): estudos
comparados Portugal-Brasil. Lisboa: Educa, 2009. O Governo de si mesmo: modernidade pedagógica e encenações
disciplinares do aluno liceal (último quartel do século XIX – meados do
século XX). Lisboa: Educa, 2003.
Coleta de dados: 1 de setembro de 2013 a 28 de
fevereiro de 2014.
Disciplinas a serem
cursadas (4):
-
Pós-estruturalismo e escrita cientifica (seminário de orientação, Prof. Jorge
Ramos do Ó).
-
História da Educação e Educação Comparada (docente Prof. Jorge Ramos do Ó).
-
Seminário Temático I (docente Prof. Jorge Ramos do Ó, Prof. Joaquim
Pintassilgo, Prof. Feliciano Veiga,
Prof. Justino Magalhães).
-
Seminário de Projeto I (docente Prof.
Jorge Ramos do Ó).
Plano de pesquisa
no exterior: Escrita-fiação:
o escrever como um modo de existir artífice.
Resumo: O projeto apresenta uma proposta
de pesquisa junto ao Instituto de Educação, da Universidade de Lisboa,
Portugal, como parte do PROGRAMA INSTITUCIONAL DE DOUTORADO SANDUÍCHE NO
EXTERIOR (PDSE), da CAPES. A proposta objetiva a ampliação dos estudos em uma importante
fase da pesquisa de doutoramento em curso, com a orientação do Prof. Dr. Jorge
Ramos do Ó, conceituado pesquisador em Educação. Tomando por base as principais
reflexões de Gilles Deleuze, Michel Foucault, Roland Barthes e Michel de
Certeau sobre o ato de escrever, os estudos pretendem aprofundar a relação
entre os modos de vida artífice e os modos de escrita, na investigação dos
processos de subjetivação. Uma abertura à escuta do campo de pesquisa,
apreciando a potência que se mostra e se inventa nas relações de um
corpo-fazedor que escreve. Como parte do projeto submetido ao processo seletivo
do Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFJF: O EDUCADOR-APRENDIZ E A APRENDIZAGEM DO CORPO: cartografias de uma
oficina de fiação manual com professores, suas memórias da escola e registros
nos cadernos-diários, o estágio favorece o adensamento da discussão
teórica, tematizada na escrita de si, tal como formulada por Foucault, e
permite o contato direto com a cultura da fiação artesanal, ainda viva em
Portugal. A participação nos seminários de orientação “Pós-estruturalismo e
escrita cientifica”, conduzidos pelo Prof. Jorge Ramos do Ó, possibilitará o
aprofundamento da discussão acerca do pesquisar na imanência e sua escrita,
iniciada desde o Projeto de Qualificação.
2 CRONOGRAMA DE ESTUDO E PESQUISA
2.1 Setembro
Às
terças-feiras
Participação
nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica
(orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às
sextas-feiras
Disciplina
-
História da Educação (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos
sábados
Disciplina
Seminário
Temático I (docente Prof. Jorge Ramos do Ó, Prof. Joaquim Pintassilgo,
Prof. Feliciano Veiga, Prof. Justino
Magalhães).
2.1.1 Escrita de
Segunda Qualificação
2.1.2 Campo
Visita à Freixo de Espada à Cinta – Criação do
bicho da seda e fiação artesanal da seda.
2.2 Outubro
Às
terças-feiras
Participação
nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica
(orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às
sextas-feiras
Disciplina
-
História da Educação (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos
sábados
Disciplina
Seminário
Temático I (docente Prof. Jorge Ramos do Ó, Prof. Joaquim Pintassilgo,
Prof. Feliciano Veiga, Prof. Justino
Magalhães).
2.2.1 Escrita de
Segunda Qualificação
2.2.2 Campo
Visita
a Bucos – Criação de ovelhas por mulheres e fiação artesanal.
2.3 Novembro
Às
terças-feiras
Participação
nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica
(orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às
sextas-feiras
Disciplina
-
História da Educação (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos
sábados
Disciplina
Seminário
Temático I (docente Prof. Jorge Ramos do Ó, Prof. Joaquim Pintassilgo,
Prof. Feliciano Veiga, Prof. Justino
Magalhães).
2.3.1 Escrita de
Segunda Qualificação
2.3.2 Campo
Visita
a Valpaços - Fiação artesanal de lã (Redondelo).
2.4 Dezembro
Às
terças-feiras
Participação
nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica
(orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às
sextas-feiras
Disciplina
-
Educação Comparada (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos
sábados
Disciplina
-
Seminário de Projeto I (docente Prof.
Jorge Ramos do Ó).
2.4.1 Escrita de
Segunda Qualificação
2.4.2 Campo
Seminário
na Universidade do Porto “ A literatura do Impossível” – Docente Prof. Dra.
Catarina Pombo Nabais
Visita
à Casa de Trabalho do Nordeste e ao Atelier Amorinha Silvestre – Tecelagem artesanal
2.5 Janeiro
Às
terças-feiras
Participação
nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica
(orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às
sextas-feiras
Disciplina
-
Educação Comparada (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos
sábados
Disciplina
-
Seminário de Projeto I (docente Prof.
Jorge Ramos do Ó).
2.5.1 Escrita de
Segunda Qualificação
2.5.2 Campo
Visita
a São Miguel – Tecelagem e fiação
2.6 Fevereiro
Às
terças-feiras
Participação
nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica
(orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às
sextas-feiras
Disciplina
-
Educação Comparada (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos
sábados
Disciplina
-
Seminário de Projeto I (docente Prof.
Jorge Ramos do Ó).
2.6.1 Escrita de
Segunda Qualificação
2.6.2 Campo
Visita
ao Instituto Monsenhor Airosa, Braga – Tecelagem industrial histórica
2.6.3 Entrega
relatório de estágio de Programa Institucional de Doutorado Sanduíche No
Exterior (Pdse).
3 ASPECTOS DA INVESTIGAÇÃO DO GRUPO
DE PESQUISA PORTUGUÊS EM INTERFACE COM O PROJETO DE DOUTORADO EM CURSO
3.1
Objetivo
Trabalha-se em torno de um conjunto
textos de vários autores relativos à emergência e à possibilidade de uma
escrita inventiva. Não obstante a sua exuberante variedade disciplinar, teórica
e empírica, os trabalhos de Barthes, Blanchot, Deleuze, Derrida ou Foucault
foram atravessados, e muitíssimo animados, por uma semelhante intencionalidade:
a de problematizar o estatuto e a função do autor, a de estabelecer
estratificações discursivas e a de operacionalizar novos desdobramentos no seu
interior. Acredita-se que, a partir desse seu labor específico, podem-se
estabelecer outros níveis de compreensão e de tessitura do que possa ser uma
escrita-crítica, ou seja, que antecipe o que, de todas as outras formas,
estaria vedado ao pensamento académico. O seu contributo é outrossim
fundamental para, numa lógica de auto-reflexividade, compreender de que modo a
cultura escolar tem idealizado e simultaneamente bloqueado a generalização de
uma atitude criativa em torno da produção de bens artísticos.
3.2 Justificativa
Este conjunto de autores não cessa
de colocar à nossa disposição uma multiplicidade de textos em que se assume a
premissa de que nada pode existir fora da linguagem. Julgo que a evidência
pós-estruturalista deve levar-nos a assumir que a prática da escrita académica
não pode, também ela, exercer-se sem a compreensão do sentido estratégico – os
infinitos jogos de poder e de verdade – do tecido de significantes que
constitui toda a obra textual. Trata-se, assim, de refletir sobre um trabalho
de deslocação que se exerce sobre o jogo de palavras. Deslocar-se na linguagem,
conduzir-se pelo mesmo eixo do poder, mas para se chegar aonde não se é
esperado; como se, em última instância, se admitisse que o texto contém em si
também uma força que permite fugir à palavra, que se agrega indefinidamente, e
nos impele para uma outra dimensão, para um lugar ainda não classificado,
atópico; como se a língua se pudesse apenas combater no interior da própria
língua.
Isto supõe não um saber mas, antes,
uma dinâmica institucional onde um saber e a criação se possam exercer por meio
da livre troca entre os participantes. As aulas terão como princípio e fim os
processos construtivos da escritura. Em vez de disciplina, dever-se-ia com mais
propriedade falar aqui em seminário, no sentido que lhe dão Barthes e Certeau,
isto é, um espaço de circulação e comentário horizontal de textos, de produção
da diferença interpretativa, de uma fala exercida a partir de notas individuais
tomadas a partir da palavra vizinha e de fragmentos de textos múltiplos.
Presume-se, assim, que essa teatralização da escrita, esse estado de enunciação
dos alunos, fornece as condições objectivas para a maternagem e a tessitura
mesma de uma narrativa pessoal que seja capaz de se referir às regras de
construção das formações discursivas que nos habitam e, ao mesmo tempo, possa
partir de textualidades várias, absorver, canibalizar e originalizar-se como
texto. O papel do professor será pois, apenas, o de orientador da sessão,
aquele que fornece a ocasião, aquele que não fala porque sabe, mas que fala tão
só porque escreveu e escreve.
3.3 Conteúdo
3.3.1
A gramática da escola moderna e os bloqueios que enfrenta uma nova
sensibilidade textual
3.3.2
Discurso
3.3.2.1.
A escrita e o poder (Foucault, Barthes e Certeau)
3.3.2.2
Produção do discurso: procedimentos de controlo, selecção, organização e
redistribuição
3.3.3
Redes e dependências intradiscursivas, interdiscursivas e extradiscursivas
3.3.4
A reconstrução de uma formação discursiva (Foucault):
(i)
os limites e as formas do dizível;
(ii)
os limites e as formas da conservação dos discursos;
(iii)
os limites e as formas da memória;
(iv)
os limites e as formas da reactivação e apropriação dos discursos
3.3.5
A constituição do arquivo como a afirmação de um poder arcôntico (Derrida,
Foucault)
3.3.6
Disciplina versus ciência: os princípios de rarefacção do discurso e a vontade
de verdade na modernidade.
3.3.7
O comentário: as narrativas maiores (textos jurídicos, religiosos, literários e
científicos)
3.3.8
Antinomias do falar e do escrever (Certeau)
3.3.9
As antinomias do ler e do escrever (Barthes e Blanchot)
3.3.9.1
Autor
3.3.9.1.1
O autor como princípio de agrupamento/unidade/origem/coerência do discurso (Foucault,
Barthes, Derrida):
(i)
a individualização do autor, a noção de escrita e a categoria crítica “o
homem-e-a-obra”;
(ii)
as quatro características da função autor: o livro como objecto de apropriação;
o fim do anonimato do autor; a atribuição de um discurso a um autor; o valor, a
coerência conceptual e a unidade estilística do autor;
(iii)
a posição transdiscursiva do autor
(iv)
a morte do autor
3.3.9.2
Prática Oficinal
3.3.9.2.1
A compreensão complexa da importância do estilo nas ciências humanas (Barthes)
3.3.9.2.2
A relação docente numa lógica de encadeamento permanente de textos (Barthes)
3.3.9.2.3
O método como uma utopia da linguagem e a assunção de uma escrita insistente,
elíptica e canibal: notas, citações, colagens e suplementos como o tecido da
intertextualidade.
3.3.9.2.4
O seminário como setting e modelo objectivado da crítica ao modelo centrado na
leitura-apropriação-comentário das metanarrativas (Barthes, Certeau):
A
reinversão da supremacia civilizacional do ler sobre o escrever (Barthes)
(i)
o artesanato do estilo
(ii)
a escrita e o silêncio
(iii)
a escrita e a revolução
3.3.9.2.5
A escrita bífida e a inversão da hierarquia fala/escrita (Derrida)
3.3.9.2.6
A escrita e a exigência da descontinuidade. A lei do crescimento da obra
(Blanchot)
3.3.9.2.7
Questionar é jogar-se na questão (Blanchot)
3.3.9.2.8
O processo de escrita como entrada no jogo da différance. O incalculável. O
imprevisível (Derrida)
3.3.10
Composição, encenação e compreensão do que não posso prever: a herança e o
porvir como limiares da investigação crítica (Derrida)
3.3.10
Uma escrita a duas mãos: o Anti-Édipo de
Deleuze-Guattari
3.3.11
A escrita como um trabalho do significante, da frase e da palavra e do limite
(Certeau)
3.3.12.
Endereço e destino
3.3.13
A vida como obra de arte (Foucault, Deleuze).
3.4
Bibliografia do curso em Portugal
Barthes,
Roland (1974). O prazer do texto.
Lisboa: Edições 70.
Barthes,
Roland (1979). A Lição. Lisboa:
Edições 70.
Barthes,
Roland (1990). S/Z. Lisboa: Edições
70
Barthes, Roland (2003). Roland Barthes por Roland Barthes. São Paulo:
Estação Liberdade.
Barthes,
Roland (2004a) O rumor da língua.
São Paulo: Martins Fontes.
Barthes,
Roland (2004b) O grau zero da escrita.
São Paulo: Martins Fontes.
Barthes,
Roland (2007). Crítica e Verdade.
Lisboa: Edições 70
Benjamin,
Walter (1992). Sobre arte, técnica,
linugagem e política. Lisboa: Relógio d’Água
Benjamin,
Walter (1992). Passagens. Belo
Horizonte: Editora UFMG.
Blanchot
, Maurice(1984). O livro por vir.
Lisboa: Relógio d’Água.
Blanchot,
Maurice (2001). A conversa infinita.
II vols. São Paulo: Escuta
Certeau,
Michel de (1994). A invenção do
quotidiano. II vols. Petrópolis: Vozes.
Certeau,
Michel de (2007). A escrita da História.
Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Deleuze,
Gilles (2003). Conversações. Lisboa:
Fim de Século.
Deleuze,
Gilles & Guattari, Félix (1992). O
que é filosofia. Lisboa: Editorial Presença
Deleuze,
Gilles & Guattari, Félix (2004). O
Anti-édipo: Capitalismo e esquizofrenia1. Lisboa: Assírio e Alvim.
Deleuze,
Gilles & Parnet (2004). Diálogos.
Lisboa: Relógio d’Água.
Derrida,
Jacques (1978). A escritura e a
diferença. São Paulo: Perspectiva
Derrida,
Jacques (2001a). Mal de arquivo: uma
impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
Derrida,
Jacques (2001b). Posições. Porto
Alegre: Autêntica.
Derrida,
Jacques (2004). Sob palavra:
instantâneos filosóficos. Lisboa: Fim de Século.
Derrida,
Jacques (2005). Aprender finalmente a
viver. Coimbra: Ariane Editora.
Derrida,
Jacques & Roudinesco, Elisabeth (2004) De
que amanhã… Diálogo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Foucault, Michel (1969). L’archéologie du savoir. Paris: Gallimard.
Foucault, Michel (1991). Politics and the study of
discourse. In G. Burchell, C. Gordon & P. Miller (Eds.). The Foucault effect: studies in
governmentality (pp. 52-72). Londres: Harvester Wheatsheaf.
Foucault,
Michel (1992). O que é um autor?
Lisboa: Vega
Foucault,
Michel (1997). A ordem do discurso.
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4 A DIAGONAL PESQUISAR ENTRE A
LEITURA A ESCRITA, UMA INTRODUÇÃO ÀS INQUIETAÇÕES
...É o homem
carregado do ser da linguagem (dessa “região informe, muda não significante,
onde a linguagem pode libertar-se”, até mesmo daquilo que ela tem a dizer).
Deleuze,
citando Foucault (1986/2008, p. 142).
O estágio
de doutorado sanduíche no Instituto de Educação, da Universidade de Lisboa,
Portugal, configura-se como importante etapa da pesquisa, pois concentra-se nos
processos construtivos da escritura em seu agenciamento com o fazer-manual e
faz isso, inventando a própria escrita da pesquisa como um fazer-manual fiador.
Assim, a pesquisa pretende artistar uma escrita acadêmica e científica,
fazendo-a devir-arte.
O
estágio se dará após a conclusão da investigação de campo, prevista para o
primeiro semestre de 2013, onde, na aprendizagem da fiação manual, se
investigará a aprendizagem do corpo, em especial, das atividades manuais em
diagonal com os ditos e escritos registrados nos cadernos-diários dos
participantes. Com o campo da pesquisa concluído, caberá ao pesquisador dar voz
ao vivido, agenciando-o com o referencial teórico, o que acontecerá durante a
escrita da Segunda Qualificação de Doutorado, prevista para abril de 2014. A
proposta de estudos na Universidade de Lisboa inclui um mergulho nas dinâmicas
da escrita científica, ampliando as reflexões sobre o texto acadêmico e suas
implicações nos modos de subjetivação, em especial, no que diz respeito à
escrita como modo de existir. Por isso, pretende-se intensificar a escrita da
Segunda Qualificação no período de estágio PDSE.
Além
da discussão acerca da escrita da tese, exercitada durante a escrita da Segunda
Qualificação, o estágio, junto ao Instituto de Educação, poderá se configurar
como importante suporte de adensamento do referencial teórico, revisitando
autores de referência, agora no contado com outro orientador e seu grupo de
pesquisa, ampliando as possibilidades de crítica.
Em
paralelo aos estudos na Universidade de Lisboa, a estada em Portugal, prevê a
visita a oficinas, ateliês e fazendas que vivem, ainda hoje, da criação de
bicho-da-seda, de ovelhas para a fiação artesanal e a tecelagem manual. As
visitas permitirão um mergulho na tradição artesanal portuguesa, fazendo vibrar
aspectos das oficinas e dos cadernos diários dos aprendizes. O contato com essa
cultura ancestral enriquecerá a o conhecimento da dinâmica das oficinas e seus
pensares, aumentando a possibilidade de agenciamento entre os ditos, escritos e
vividos do campo de pesquisa.
4.1 Por que
fiação?
Entre
as artes oficineiras que seriam possíveis de serem cartografadas em uma
pesquisa sobre o fazer do corpo e sua voz, a menos praticada, apesar de muito
conhecida, é a fiação. Na fiação, o aprendiz se vê diante da matéria-bruta. Seu
trabalho se realiza diretamente entre o corpo e o material: fibras naturais,
cardas e fusos. Porém, diferentemente de outros materiais que também colocam o
corpo-aprendiz em contato com a matéria-bruta, a fiação não se presta à
representação, à figuração. Na fiação, não há como modelar uma forma figurada
ou fazer um desenho riscado, como se faz, por exemplo, com argila ou pedra. O
que se apresenta em um fio é o movimento do corpo do aprendiz, sua habilidade,
sua plasticidade em ação, nada mais. Poderia dizer que a fiação desnuda o
artífice e torna visível, materialmente, o corpo-fazedor. É desta forma que
entende-se a escolha desta técnica artesanal na composição de um
dispositivo-oficina agenciador de uma pesquisa que cartografa o corpo-fazedor e
seus dizeres.
4.2 Incômodos de
um pesquisar
Incômodo
com o valor das artes na educação. Incômodo com o lugar das artes-manuais na vida,
na escola, na educação. Incômodo com o valor-lugar do feminino e suas
manualidades. Incômodo. Incômodo com a insistência de estudar-se como
aquisição. Incômodo com uma leitura definidora. Com uma leitura tradução. Lê-se
em nome de? Lê-se em nome de interesses superiores, civilizatórios? Só? Seria possível ler produzindo? Seria
possível ler e não “ler compreendendo”? Desleitura. É possível agramaticar a
leitura? Ler para calar, para incertar,
para desconcentrar. Ler para desler. Ler para desler-se. Leitura produção. Ler
como agenciamento maquínico. Seria possível? Seria possível pesquisar na invenção
de agenciamentos maquínicos, produção de máquinas intensivas, de vida
intensiva? Seria possível inventar leitura? Seria possível inventar leitura de
texto científico? De texto filosófico? Inventar no sério da leitura e seus
estares apoéticos? Ao ler, está-se sempre buscando significantes? Ao ler,
está-se sempre buscando os ques és? Os paraquês? Os paraquês objetivados,
justificados, negritados em fontes certas. É possível ler fora de uma leitura
definidora? É possível ler sem função, sem para quê? Ler no grito. Produzir-se
em uma leitura dionisíaca, uma leitura de maré alta. Dar vazão ao fluxo
dionisíaco na leitura. Constituir um mau caminho. Ler como possessão. Leitura
possessão. Ler uma leitura trágica: vivida antes de ser pensada. Ler uma
leitura de má vontade. Ler como tempestade no abismo. Leitura abismo,
produzindo vertigem. Leitura abismo, provocando incômodos. Incômodo de leitura
que escreve. Incômodo com uma escrita linear para uma leitura linear. Escrita-leitura
científica pré-programada. Incômodo com um escrever sobre para se ler sobre. Um
escrever de. Um ler do. Incômodo de escrever. Escrita incômoda. Escrita
incômodo. Escrever para inventar. Escrever para artistar. Escrever para viver.
Escrever para conhecer. Incômodos múltiplos de um pesquisar. De um escrever. De
um estudar. E, assim...
Tomar questões do primeiro projeto de pesquisa.
Beber questões encontradas nas leituras.
Descobrir questões imbricadas na pesquisa.
Inventar questões agenciadas com a vida.
Produzir questões incômodas.
Maquinar incômodos.
Tomar, beber, descobrir, inventar.
Agenciar. Produzir. Imbricar. Maquinar.
Incomodar.
Questões.
Incomodações.
Ações.
Pesquisa.
5 ESCREVER ÀS VEZES É DISSOLVER-SE
NA ESCRITA: TUDO O QUE NÃO SEI É MINHA VERDADE
Gostaria que um livro [...] esse
objeto-evento, quase imperceptível entre tantos outros, se recopiasse, se
fragmentasse, se repetisse, se simulasse, se desdobrasse, desaparecesse enfim
sem que aquele a quem aconteceu escrevê-lo pudesse alguma vez reivindicar o
direito de ser seu senhor, de impor o que queria dizer [...] (FOUCAULT,
1972/2010, viii).
Ler como declaração. Declaração de amor à escrita.
Amor apaixonado, que se quer conflito. Leitura guerra. Leitura mantida em fogo
brando, cozido. Amor de papel e bits. Leitura fragmento, pelo meio. Fractal.
Explosões intensivas na celulose e na tela. Intempestiva, sempre. Espalhada
pelas fibras todas, pelas células todas, em suas finitas e ilimitadas
circularidades. Infinitude viva. Carne, fome e sede. Leitura canibal. Revolução
molecular, invasão territorial. Leitura do tornar-se escrita. Leitura do
tornar-se, do desser-se. Leitura que dessubjetiva e subjetiva escrita.
Ler
como morte, como vida. Como mortalha-viva. Ler como fluxo, incessante pedido de
passagem. Maré que vaza. Maré que baixa.
Quantos seres sou eu para buscar
sempre do outro ser que me habita as realidades das contradições? Quantas
alegrias e dores meu corpo se abrindo como uma gigantesca couve-flor ofereceu
ao outro ser que está secreto dentro de meu eu? Dentro de minha barriga mora um
pássaro, dentro do meu peito, um leão. Este passeia pra lá e pra cá
incessantemente. A ave grasna, esperneia e é sacrificada. O ovo continua a
envolvê-la, como mortalha, mas já é o começo do outro pássaro que nasce
imediatamente após a morte. Nem chega a haver intervalo. É o festim da vida e
da morte entrelaçadas[1].
“Sim sou
um ladrão de pensamentos...”
(DELEUZE; PARNET, 1996/2004, p. 17, citando
Bob Dylan).
6 LEITURA SENSAÇÃO
O pensamento não tem lugar, ele
deriva de todas as paragens, nasce das dobras de qualquer circunstância, da
invenção de um conceito ou do exercício do próprio pensamento. Pensar significa
dar funcionamento às coisas, deslocá-las ou atravessá-las com significados
outros, pensamentos outros (Oliveira, 2007).
É domingo. No parque as crianças brincam soltas ao
sol enviesado da tarde de outono. Um menino sopra bolhas de sabão. Ao fazê-lo, observa-as uma a uma até que
subam e explodam no ar. Quando isto acontece, o menino sorri, fazendo um arco
ascendente com o canto da boca. Só então, mergulha o pincel circular novamente
no pequeno pote e sopra uma nova bolha. A leveza da bolha, o olhar observador,
o sorriso breve, o movimento calmo que repete a operação com interesse.
Qualidades de um menino no parque, num domingo de sol morno e suave. Qualidades
impressas em texto lido em um domingo em que, talvez, num parque, um menino
sopre bolhas e sorria.
Queria
ter sabido escrever este projeto feito
poema de livro infantil, daqueles que a gente lê para o filho antes de dormir,
com voz baixinha, quase sussurrada, pensando em preparar o sono, em inspirar o
sonho. Queria ter podido escrever assim para tentar dar voz à sensação que me
produziu a leitura de um texto. Texto de uma área desconhecida, na qual meu escrever
crítico pouco pode contribuir. No entanto, achei que, talvez, fosse uma
oportunidade para deter-me um pouco mais perto de algumas inquietações que
tenho sobre um texto e sua recepção.
Não
se pretende aqui falar de uma teoria ou de uma estética da recepção, a partir
de teóricos como Jauss (1979), Barthes (1987), Hall (1981), Eco (1979) e outros
dedicados às temáticas da leitura, do leitor e seus modos, mas tão somente,
deixar-se envolver pela sensação de um texto e tentar fazer voz desta sensação.
Que
sensações criam um texto? Que notas musicais ouvimos no som de um texto? Cores,
formas, movimentos. Que artes plásticas se instalam pelas forças disparadas na
leitura de um texto? Questões. Indagações inquietas. Quem sabe, a partir destas
perguntas, poderia se começar um exercício de problematização que permita
indagar, na perspectiva das filosofias da diferença, como se dão as maneiras de
ler sem a expectativa do entendimento que, quase sempre, traduz uma vontade de
verdade?
Quando
se lê um texto na academia como referência teórica, pretende-se objetivar e
instrumentalizar a leitura, apontando conceitos, valorizando passagens bem
explicitadas, avaliando a pertinência do que se lê com o que se pesquisa,
atento à coerência e a coesão. Mas seria este trabalho instrumental isento da
produção de sensações? Caberia pensar sensações a partir de um texto científico?
A partir do referencial teórico de uma pesquisa? É possível isentar-se de
sensações na leitura?
[...] uma boa maneira de ler hoje
em dia, seria tratar um livro como se ouve um disco, como se vê um filme ou uma
emissão televisiva, como se recebe uma canção: qualquer tratamento do livro que
exija um respeito especial, uma atenção de outro tipo, vem do passado e condena
definitivamente o livro. Não há nenhuma questão de dificuldade nem de
compreensão: os conceitos são exatamente como sons, cores ou imagens. São
intensidades que vos são ou não convenientes, que passam ou não passam. Pop
filosofia. Não há nada a compreender, nada a interpretar. [...] (DELEUZE;
PARNET 1996/2004, p. 14).
Ler
um texto científico ou filosófico como quem escuta uma música, como quem pinta
um quadro. Há alguma facilidade no fato de se tratar este texto de um assunto
ignorado completamente. Isso pode possibilitar certa fertilidade na pesquisa de
suas sensações, pois é um texto que, a princípio, não se pretende – e nem se
poderia – querer entender. A leitura aqui não seria então mais uma questão de
entendimento, de acompanhar atenciosamente o encadeamento dos argumentos, de
comparar ideias, interpretar conceitos. A leitura aqui seria um contato, um
aproximar-se do desconhecido e abrir-se à sensação, ao encontro com o modo, com
o funcionamento de uma escrita. Estar junto à escolha do léxico, à poética das
orações, ao ritmo dos parágrafos e criar sensações com elas. Seriam as
sensações de um texto aquém e além de seu entendimento? Criar sensações com a
leitura pode ser abrir o corpo à letra, fazer corpo-letra? Perguntas que, neste
projeto, se pretende produzir e manter.
Também
aqui não se trata de perguntar sobre o prazer ou desprazer de ler. Não se quer
falar de sentimentos desenvolvidos a partir de uma leitura, de impressões
causadas ou sofridas, mas de pensar a leitura como intensidade, força que
devém, que se passa, experiencia. Tomar a escrita deste projeto como sensação,
pensar nela artistadamente, visto que, cito Pelbart (2009): "A sensação é a tradução pictórica [...]
da força (p. 93).
Se
o texto lido é sensação, tradução de força, que forças se fizeram mover no tato
dele? Que forças foram disparadas pelo lido? Talvez fosse possível pintar tais
forças, esculpi-las, tecê-las, mas, escrevê-las, sem, tão somente,
descrevê-las, é ação insabida. Neste projeto escreve-se do que não se sabe, não
se sabe falar das sensações na leitura. Por isso, escreve-se do que se fez
questão ao ler e escrever o próprio projeto. Escrita do que incertou. Leitura
incerta. Escrita da pergunta-sensação, incertada de poder dizer da sensação do
dito, do lido. Incertada de poder escrever sem querer fazer entender.
Talvez
se possa tentar escrever do lido com um som, uma cor, criar dispositivo-escrita
disparador de sensação, em um exercício que se quer com mais vagar, exercendo
lentidões, desativando o entendimento, o reconhecimento, encompridando
pensamentos, até fazê-los desaparecer em outros pensares.
Pensares-leveza
de bolhas que flutuam no céu do outono. Pensares-sons em silêncios-bolhas nas
tardes de domingo. Pensares lentos, sentidos-bolhas em texto que compõe ar,
devém cor. Texto-bolha. Abrigo arredondado, provisório, que, em algum momento,
explode, fazendo sorrir.
A
bolha-texto lê e escreve. Escri-leitura. Bolha-sensação que faz
amarelo-transparente, cor aerada, clara, que deixa esquecer que não se sabe e
desloca o pensar para aquilo que se mostra processo na organização de
conceitos. Inventa modos de perceber que expõem relações de ideias com a
simplicidade do soprar o ar pelo arco ensaboado. Bastos Tigre (1882-1957),
escritor pernambucano, dizia que “nada mais fácil que escrever difícil; na
simplicidade está a complicação que dificulta o ofício”. A simplicidade amplia
sensações? A simplicidade de um texto desloca, tira do primeiro plano, a
vontade de entendimento?
A
simplicidade textual do pesquisador na escrita acadêmica pode produzir
bolha-sensação? Bolha de sabão? Da mesma que o menino sopra domingo no parque.
Quando a bolha forma, sobe no ar, suspende o tempo, infinita o espaço no dentro
da bolha. No dentro da bolha, não há vento, não há barulho. O silêncio
envolvente da bolha faz eternidade, instante. A bolha-texto do pesquisador da
educação pode fazer lentidão, permitir o estar próximo do desconhecido com a
naturalidade do familiar. O texto-ar do pesquisar pode deixar o tato atuar com
leveza. Fazer soprar movimento-ar, dando, inesperadamente, a pensar. Ler, então
compõe-se amistoso, mas faz mover e mudar. Enfim, a leitura quando explode, se
apresenta ao entendimento por um outro lugar.
7 QUE INVENTA A LEITURA?
Ora, o que estou chamando de marcas são exatamente
estes estados inéditos que se produzem em nosso corpo, a partir das composições
que vamos vivendo. Cada um destes estados constitui uma diferença que instaura
uma abertura para a criação de um novo corpo, o que significa que as marcas são
sempre gênese de um devir (ROLNIK, 1993, § 5).
Permanente
exercício. Constante investigação inconclusa. Movimento repetido na arte do
corpo. Laboratório-experimentação. Que inventa a leitura? Quem se inventa na
leitura? O que se inventa com a leitura?
De fato, a atividade leitora
apresenta [...] todos os traços de uma produção silenciosa: flutuação através
da página, metamorfose do texto pelo olho que viaja, improvisação e expectação
de escritos, dança efêmera. [...] [O leitor] insinua as astúcias do prazer e de
uma reapropriação no texto do outro: ali vai caçar, ali é transportado, ali se
faz plural como os ruídos do corpo. Astúcia, metáfora, combinatória [...]
(CERTEAU, 1990/2009, p. 48).
A leitura mais próxima do corpo, uma
leitura-corpo. Fazendo do leitor, um aventureiro tecelão: “Quando eu fico a
idealizar a imagem de um leitor perfeito, acaba surgindo sempre um monstro de
coragem e curiosidade, e além disso, algo flexível, cheio de manhas, precavido,
um aventureiro nato, um descobridor (NIETZSCHE, 1888/2009, p. 76). O fio, a
linha tramando o tecido incerto da leitura.
A leitura como carne do corpo, como resistência ao mecanismo de
repetição do mesmo que o cotidiano naturalizado produz. O fio da leitura como
tato-experiência, como experiência de corpo.
É um modo de exercer a escrita em
que ela nos transporta para o invisível, e as palavras que se encontra através
de seu exercício, tornam o mais palpável possível, a diferença que só existia
na ordem do impalpável. Nesta aventura encarna-se um sujeito, sempre outro:
escrever é traçar um devir. Escrever é esculpir com palavras a matéria-prima do
tempo, onde não há separação entre a matéria-prima e a escultura, pois o tempo
não existe senão esculpido em um corpo, que neste caso é o da escrita, e o que se
escreve não existe senão como verdade do tempo. Uma outra imagem ainda, para
tentar dizer a mesma coisa: escrever é fazer letra para a música do tempo; e é
esta música, sempre singular, que nos indica a direção da letra, que seleciona
as palavras que transmitam o mais exatamente possível seus tons, seus timbres,
seus ritmos, suas intensidades (ROLNIK, 1993, § 22).
7.1 Poderia uma leitura ser inventada?
E a
leitura da escrita? Não deveria trazer
potência mesma da escrita? A leitura, ela mesma, não deveria afirmar de si? A
leitura também é invenção? Se lermos com um determinado objetivo, não estaremos
perdendo o ato mesmo da leitura? Nesse
sentido, a leitura não pareceria constituir "o ponto máximo da
passividade" (CERTEAU, 1990/2009, p. 48)? Inventar um mar. Produzir um mar
na leitura. Um mar ilegível.
A
escrita-experiência-ilisível que faz esquecer o rumo, que inverte a bússola,
que neblina o porto, faria o leitor esquecer-se, incomodar-se, permitir-se
outro. Como o cardador de três salas de lã, no contínuo da segunda sala, o fio
futural está esquecido, resta o barulho da carda, resta o resto do cisco, resta
o sentindo-sensação do fazer-experiência-outra. Navio esquecido do porto,
viagem longa no cubo do tempo. Presença, portal de memória no-do corpo. Do que
se trata mesmo a escrita? Texto-escrita-leitura que leva a paragens outras, vaza
do texto num fora repleto de textos outros, portal de memória do corpo que
lê. Leitura curva, incerta, incesta.
Leitura em dobras de um inventar Leitura em dobras de um inventar escritas.
As dobras e redobras estão sempre cheias.
Há as dobras simples e as bainhas com nós e
costuras.
Drapeados com pontos de apoio.
Poderia um princípio ser inventado?
Somos sempre remetidos a um novo tipo de
correspondência ou de expressão mútua, “entre’expressão”, dobra conforme dobra.
Em primeiro lugar, devo ter um corpo, porque há o
obscuro em mim[2].
7.2 Leitura-experiência: máximo de
intensidade
Pretende-se,
neste exercício, caracterizar uma das maneiras de ler que não se quer uma
leitura de um discurso verdadeiro e estável, pois visa inventar na leitura um
mundo deveniente. Uma maneira de ler em devir, que ultrapassa questões de entendimento, instalando uma estética
da leitura. Uma leitura que inclui o
vivível, o sentível e, contraditoriamente, aproxima-se ao máximo do impossível,
do invivível, do indizível do que se lê. Uma leitura que é escrita. Contradição
que quer deixar vazar ao máximo o intensivo paradoxal da experiência de leitura-escrita.
Diz Foucault “Para Nietzsche, Bataille, Blanchot [...] a experiência é tratar
de alcançar certo ponto de vista que esteja o mais próximo possível do não
vivível. O que requer o máximo de intensidade e, ao mesmo tempo, de
impossibilidade” (CASTRO, 2009, p. 161). Uma leitura que quer imprimir-se no
dito, tirar das palavras grafadas no papel, o acontecimento, o instante
impronunciável da experiência e, quem sabe, tornar-se ela mesmo experiência. Leitura-experiência.
Não uma experiência como um olhar reflexivo sobre o vivido para captar
significações, para dar sentido ao vivido e garantir a consciência do não-erro
futuro, uma outra forma de experiência “já não aquela que funda o sujeito, mas
como forma de dessubjetivação” (Idem). Leitura dessubjetivação. Desleitura.
7.3 Leitura-dispositivo: múltiplos
agoras
Essa
maneira de ler que se aspira caracterizar aqui, se apresenta também como um
espaço onde tem lugar o acontecimento. Acontecimento como efeito que celebra a
experiência, no disparar do dispositivo. Uma maneira de ler intempestiva. Uma
maneira de ler em êxtases efêmeros. Em fractais de letras no papel. Uma leitura
que se quer escrita. Que ser quer fazer experiência, se configurar em
dispositivo. Dispositivo de leitura. Dispositivo de leitura que quer tornar-se
escrita. Comer a própria carne. Canibalizar-se. Dispositivo pensado junto a
Foucault (1979/2010), como um conjunto heterogêneo que pode englobar variados
discursos e ações. “[...] O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre
esses elementos” (p. 244), reúne uma “série de práticas que produzem efeitos”
(KASTRUP; BARROS, 2009, p. 81) e que são explicitados materialmente. A
materialidade da leitura carnando-se, catabolizada pela escrita.
Leitura-escrita engendrada como dispositivo, lugar de ação
que coloca à mostra os processos de subjetivação e dessubjetivação, entendidos
como relações de força si-mundo. Além disso, entre os elementos heterogêneos
presentes em todo dispositivo, estão também os múltiplos agoras. Múltiplos
agoras da leitura, movimentos que estão sempre acontecendo quando parece que
uma só coisa acontece e que, em uma leitura tomada como discurso da razão, são
ignorados. Cala-se os múltiplos agoras para produzir efeito de único, de
estável, de verdadeiro. Cala-se o corpo que lê, submetendo-o ao saber escrito.
Cala-se o leitor, aprisionando-o em um tempo único. Mas dos dedos que seguram o
lido escapam tintas que vazam para um papel outro. Escrevem os lidos pelo
avesso, dejetam os lidos, purgando escritos que corroem as correntes da
verdade, do saber, do conhecimento, do único. Politintas, polivozes, poliditos
escritos. Politudos atordoando a razão, destronando a razão, canibalizando a
própria mão que escreve sem razão.
7.4 Leitura-dobras:
abrigos provisórios
Antes
de se inventar uma dobra para investigar de que razão se está tratando, faz-se
uma dobra para dizer da dobra. A noção de dobra com a qual operamos é entendida
em um de seus aspectos: o de fazer surgir uma singularidade. Dobra como
invenção provisória de um mundo. Dobra surgida de um movimento de forças que se
dobram sobre si mesmas, invaginam e criam um espaço, um lugar, configurando
provisoriamente uma forma que, assim, constrói, momentaneamente, um abrigo.
Abrigo-útero, se movente. Abrigo-prisão, se fuga do caos. Abrigo-morte, se
permanente. Essa dobra pode produzir outras tantas dobras. São pregueados,
drapeados, plissados, franzidos, movimentos que se fazem nos fluxos e forças,
produzindo mundos dobrados uns sobre os outros. Sempre singulares, sempre
múltiplos, sempre móveis e moventes. Por exemplo, agora: as forças desse texto,
no fluxo desse parágrafo, dobram-se para dizer da dobra. Aí, dobrar-se-ão
novamente para construir uma forma provisória de dar língua ao modo como se
entende razão. Depois, desdobrar-se-ão outras vezes, em movimentos contínuos e
sempre variáveis, para inventar um texto, ele mesmo, uma dobra, um modo
provisório de dizer de um mundo em dobras.
7.5 Leitura-eros
e logos: fluídos corpóreos
Agora,
o texto se dobra novamente para investigar em qual sentido estamos nos
referindo à razão, para, então, tentar mostrar que uma possível leitura-experiência
canibal, aproximada de uma dimensão uterina do fazer, escapa a um discurso
racional. Racional no sentido apontado por Clareto, ao se referir
[...] à razão, e à racionalidade,
como gênero ocidental, uma produção da cultura ocidental, com suas raízes na
Grécia Antiga, quando do nascimento da filosofia que passou a substituir os
mitos: “em nome da razão, os filósofos anunciam a racionalidade da vida, para
além do fluir das sensações, do passar dos sentimentos, do capricho das
emoções” (LARA, 1991, p. 35). Para
Nietzsche, aí começa a decadência da cultura ocidental, com um racionalismo
crescente que tem, para ele, a figura de Sócrates como emblema. Segundo o
filósofo alemão, a “razão tirânica” veio para dominar os “instintos
contraditórios”, separando e opondo forças complementares entre si como: Apolo
(deus da clareza, da harmonia e da ordem) e Dionísio (deus da exuberância, da
desordem e da música) e com isso
promovendo a “separação
entre o trabalho manual e o intelectual, entre o
cidadão e o político, entre o poeta e o filósofo, entre Eros e Logos” (LEBRUN,
1999, p. 6). Com essa separação, o mundo grego – e de resto todo o mundo
ocidental herdeiro de suas tradições – teria inaugurado “a época da razão e do
homem teórico” (p. 9). Antes disso, na época da Grécia Trágica, não existiam
tais dicotomizações, não havia, pois, necessidade de ressaltar a razão. Eros e
Logos não eram opostos, mas complementares (2003, p. 3).
Essa
razão, a que se refere Clareto, parece isolar uma dobra da experiência para
poder dar língua a ela. Reduz para poder representar. Ignora a multiplicidade
dos agoras para poder intectualizar o lido.
Higieniza o lido, exclui dele sua erótica, sua dimensão deveniente.
Esteriliza para poder fazer do ler, ouvido único. E faz isso, porque, ao invés
de entender o lido como experiência, como dobra, como passagem, como
provisório, como múltiplo, o pensa fixo, definitivo, o pensa como verdade.
Aqui, propõem-se exercício outro. O exercício
de falar de uma leitura que tenta vazar da razão, que procura escapar ao mundo
da não-contradição, da univocidade, da verdade. Mundo esse regido pelo
intelecto e suas leis lógicas inequívocas. Aqui, se quer uma leitura da
equivocidade, que lê os múltiplos uns do vivido, inventa-se na sua
excessividade, na sua complexividade. Uma leitura fora da ordem dos possíveis.
Uma leitura não para entender o que não sabemos, “mas para sentir o que não
sabemos” (LEVY, 2011, p. 21). Uma leitura mentira. Que se sabe mentira. Que se lê
mentira. Que, quando se acredita, se acredita de tanto mentir, mentir até
inventar uma realidade, até dobrar o próprio lido e fazer dele um escrito.
Na leitura
que se diz aqui, o que se pretende é macular a episteme, impregnando-a com os
fluídos corpóreos da doxa, fazendo da leitura uma profanação, esgarçando o
tecido do lido pelo fio do vivido, onde nada sempre é, onde tudo sempre devém.
Um lido que pretende raspar, arranhar, esgarçar, fazendo ranhuras no
intelectivo homogêneo, fragmentando-se. Um lido que pretende estabelecer uma
rede entre elementos heterogêneos, presentes nos múltiplos agoras, fragmentos
de leituras muitas, espalhadas, dispersadas, desconcentradas. Leituras invadindo
a carne, provocando a mão a vazar a tinta. Leitura que se quer escrita.
Elementos que se contradizem, que ocupam o mesmo lugar no espaço, que não se
dão a ser provados, a ser comprovados. Leitura-escrita. Elementos improváveis,
impossíveis. Elementos que não coincidem, que não pertencem a mundos únicos,
que não pertencem aos mesmos mundos. Elementos que, quando dobrados uns sobre
os outros, podem formar dispositivos, aparelhos de subjetivar e dessubjetivar,
de dobrar e desdobrar-se no vivido.
7.6 Leitura-cenários
e vozes: investigações
Assim,
nas dobras excessivas do instante e seu vozerio, o cenário deste projeto, que
se quer ele mesmo dispositivo, é também outro dispositivo: um objeto de
leitura-escrita, tomado como dispositivo investigativo. E, na leitura-escrita
deste projeto, nas dobras destes dispositivos, uma questão se faz: investigar a
leitura-experiência. Fazer da leitura um
fazer-manual de escrita. Escritas que agenciam vozes que deixam vazar o
intensivo da experiência da leitura, adotada como processo vivencial, como
dispositivo.
Assim
como, neste dispositivo-projeto, há um dispositivo dobrado no outro (o
dispositivo leitura dobrado sobre o dispositivo escrita), também a investigação
da pesquisa que se realiza, a exemplo do que acontece com a configuração dos
dispositivos, apresenta dobras: uma qualidade de escrita dá voz à vivência do
tecer, torna audível sua intensidade e se dobra singularmente: trata-se de um
tecer-escrever de mãos femininas. Mãos femininas que, na dobra de seus
escritos, deixam vazar intensidades que remetem ao corpo, a estados uterinos,
fecundos e disformes que se dobram, aproximando-se do indizível, do silêncio,
da criação. Que apontam para um determinado modo de escrita: uma escrita que dá
expressividade à experiência. Tornando visível a erótica da experiência ao
amplificar as intensidades dos dizeres, criar ruído nas palavras, dilatar a
espessura dos enunciados, e fazer ecoar gritos, urros ou sussurros entre as
linhas que se escrevem.
8 FIAR A LEITURA, FIAR A ESCRITA
Escrever é procurar
entender,
é procurar
reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o
último o sentimento que
permaneceria apenas
vago e sufocador.
(LISPECTOR, 1999, p.134)
Leitura, arte do corpo, mão.
Escrita, arte do corpo, mão. Leitura-escrita, arte de mão que compõe tecido
outro com os restos, as sobras dos relatos de um experienciar. Um experienciar
de corpo e mão na fiação. Leitura-fiação. Escrever que fia. O lido-corpo agencia
a escrito-texto. Configuração provisória na dobra de um pesquisar. Pesquisar a
arte do corpo na fiação. Pesquisar a voz do corpo na fazeção. Formação de escrita
outra na leitura mesma. Fragmentos-lidos. Reunião de escritos-experiências.
Anotações soltas. Restos de experimentos de corpo. Feitura de dobra outra na
composição de um corpo-leitura-escrita-pesquisa na fiação. Uma leitura-escrita
brotada de um campo. Do contato com escritas fragmentos em leituras fragmentos.
Anotações nuas. Corpo nu que escreve. Corpo nu que lê.
O corpo nu é o corpo da dobra
o que sobra
depois e antes de tudo
o que cobre
adereços
(MACIEL, 2010, §
3)
[...] somos feitos de
linhas.
(DELEUZE;
GUATTARI, 2008b, p.66).
8.1
Os vestidos de Maria Amália
Longe de querer um enfoque
nostálgico, essa crônica pretende uma reflexão sobre o tempo feminino
engendrado pelas artes-manuais. O que se sente, pensa, lembra e se movimenta
enquanto sentamos calmamente para tecer artes feita pelas mãos? Atividade
promotora de um tempo feminino de origem remota, ancorado no movimento sutil do
corpo que parece ser o mesmo tempo do aninhar, do zelar, do aquecer o outro, o
mundo e a si mesmo. Tempo outro, diferente daquele que move as demandas sociais
modernas. Tempo elástico, suspenso entre o coração e o ventre. Tempo
movido por mãos que sabem sem saber, que fazem fazendo pela sabedoria do corpo.
Tempo feminino que afirma e constitui.
Tomando café da manhã em um hotel do
Triângulo Mineiro, escutei um depoimento interessante de uma educadora. Na
época dos preparativos para o casamento de minha filha, disse ela, resolvemos
fazer uma lembrancinha diferente para as madrinhas e convidadas mais íntimas,
como avós e tias: um pequeno vestido de noiva, costurado e bordado à mão. A mãe
zelosa se emocionou ao partilhar o que sentiu durante os meses que antecederam
ao casamento da filha única enquanto costurava, noite após noite, os pequenos
vestidos de renda, seda, pedrarias e brocados. Para ela, mais do que a festa,
mais do que a sensação de "passarinho deixando o ninho", mais do que
todas as outras emoções que a
atravessavam naquela época, o costurar dos pequenos vestidos possibilitou uma
vivência muito forte e profunda em relação às sensações que o casamento da
filha promovia. Fiquei pensando nesse poder das manualidades. As mulheres,
desde o começo do mundo, se dedicam de algum modo às artes-manuais. Até o
pós-guerra, quando a industrialização terminou de tirá-las de casa,
afastando-as ainda mais das lidas domésticas, dos filhos, das agulhas e linhas,
todas as mulheres tinham íntima relação com atividades feitas com suas próprias
mãos envolvendo panos, fios e lãs. Sentar-se serenamente para costurar é uma
atitude que permite a reflexão, cria um tempo sem tempo, um espaço de sutil meditação.
As mãos hábeis executam a tarefa e o pensamento viaja, se organiza, lembra,
elabora. Enquanto no colo, o trabalho descansa, os olhos se perdem no horizonte
da mente em total suspensão. Instante parado no tempo oculto da vida. Vida
suspensa no tempo do corpo. A retomada da costura parece trazer de volta o
estar no mundo. As ideias se organizando ponto a ponto promovem uma força que
amplia a capacidade feminina de gerar o mundo em seu próprio corpo. Costurar,
bordar, fiar, tecer, até mesmo cozinhar, são atividades culturalmente
vinculadas às mulheres desde o início dos tempos e que hoje estão cada vez mais
distantes de nós. No lugar desses afazeres, outros que passam longe dos colos,
passam rápido por mãos ansiosas e deixam pouco o que pegar e admirar.
9 FIAR A ESCRITA, TECER A ESCRITA,
BORDAR A ESCRITA
De qualquer coisa,
fazer uma matéria
de expressão.
(KASPER, 2006, p. 204)
Um
querido: tese-viral. Um intento: tese-contágio. Escrita-contaminação. Leitura
contaminada. Respingos do fazer manual no escrito da tese. Costurar a tese,
tecer a tese, bordar a tese. Um fazer múltiplo contagiante. Artes-manuais feito
vírus de gripe asiática, feito peste bubônica, feito sorriso de bebê. Espalhar
impurezas no corpo da tese. Introduzir um corpo estranho. ...processo
inflamatório que perturba a ordem natural do corpo... Não mais preto no branco.
Não mais máquinas reprodutoras de cópias. Não mais caneta preta. Não mais lápis
grafite. Não mais borracha. Erros aparentes, visíveis, abertos ao encontro.
Cada página manuseada, costurada, colada, pintada. ...invasão tecidual... A mão
na página diz do instante. A mão na página diz do útero. Que diz daquilo que
brota na voz enquanto borda, tece, fia. A mão na página diz do incerto, do
urro. Dito maldito em simultâneo com o pintar unhas em mãos que cuidam da
infância, que alimentam, zelam pela casa, pela educação. Uma mulher e suas
agulhas: atividade manual que não dá nem para os alfinetes. Uma mulher abissal:
útero vazado, contaminação desigiênica, corrimento em sangue e pus. Penélope, a
casta-fiel-que-cala-e-aguarda, dança de mãos dadas com Baubó, a
desdentada-das-pernas-abertas-que-gargalha. O útero-Crisaor, monstro gerador de
monstros. Irmão gêmeo do alado Pégaso, o branco, o belo, o inteligente. Uma
escrita suja de senso comum. Pensamentos com imagens ocupando lugares. Escritas
do que se sabe mal. Escritas na extremidade do próprio saber. Dessaber. Escrita
ignorância. Desciência. Coisas soltas que retornam e se misturam a outras.
Impropriedades. Inconsistências. Incoerências. Eugenia impossível. Deseducação.
Escrever de corpo-mão-útero. Pesquisar de mão-corpo-útero. A mão conectando o
grito do corpo. Corpo oco. Víscera maldita.
Desarte. Desformar. Deslimpar. Desprontar. A lã em contato com o
papel. Mancha de tinta. Rabisco. Mancha de gordura, orelha. Página amassada.
Desfilosofia. Um querido: escrita-viral.
Um intento: escrita-contágio. Pesquisa contaminada pelo fazer cotidiano.
Pesquisa contaminada pelo fazer ordinário. Nada de mais. Nada de erudito. Nada
de especial. A mesmidade ocupando lugar. A mesmidade do cotidiano como broto
vivo. A mesmidade do ordinário como intempestivo.
9.1 Fazendo-me ao me desfazer:
escrita de si ou escrita do eu?
Que importa quem
fala?
(FOUCAULT citando BECKETT, 1969/2002, p. 34).
Escrevo em cadernos-diários há quase vinte anos. Não
são textos lineares, memoriais ou desabafos, mas registros dos processos em
curso, atravessados por anotações de agenda, colagens, fotos, citações
colhidas, lidas ou ouvidas, frases soltas e ideias que me ajudam a desenvolver
palestras e a compor crônicas. Essa mesma experiência narrativa tem sido
aproveitada em oficinas de arte-manual que costumo ministrar há alguns anos
para adultos, em especial, professores e pessoas ligadas de alguma forma à
educação. O objetivo primeiro dessas oficinas é a observação da própria
aprendizagem. Quem se inscreve, normalmente percebe em si, ou na sua maneira de
ensinar, algum incômodo que gostaria de ver investigado. Há casos bem objetivos
como uma lateralidade cruzada mal observada desde a infância. Mas também
existem situações em que o profissional de educação está insatisfeito com sua
forma de atuação docente e procura buscar uma maneira mais orgânica, menos
intelectual de vivenciar a educação. Durante a oficina de manualidades,
questões relacionadas à Pedagogia Waldorf são abordadas, especialmente, quanto
à presença das artes-manuais no currículo. Entre as dinâmicas propostas para o
trabalho, sugiro a adoção de um caderno-diário, onde cada participante poderá
registrar suas impressões.
A
escrita de si sempre foi um assunto que me interessou. No entanto, em uma
reunião de orientação, antes mesmo de o primeiro ano letivo do doutorado
começar, a temática “escrita de si ou escrita do eu” se fez questão. Agora,
retomando trechos do memorial que escrevi em 2010, percebo o quanto escrever
desde em primeira pessoa, desde uma centralidade do eu autoral, se tornou
tarefa difícil. Os exercícios praticados para impessoalizar a escrita, em uma
tentativa de descentralização da função de autoria, descolaram-me de uma
escrita do eu, entendida, aqui, como aquela onde o autor fala de sua própria
vida, seus sentimentos e pensamentos com o objetivo de expor questões sobre ele
mesmo. Não que escrever em primeira pessoa seja indicativo único de uma escrita
do eu, ou que um dizer impessoal garanta configurações outras do sujeito que
escreve, mas são exercícios que ajudam a pensar a questão da autoria como um
desfazimento do eu. “Isso porque, no duelo contra a força do hábito autoral,
são as forças da impessoalidade, e não só da anonímia, que aí emergem. [...] O
próprio Foucault (2001, p. 268) o dirá: ‘[...] trata-se da abertura de um
espaço onde o sujeito que escreve não para de desaparecer’” (AQUINO, 2011, §
34-35).
Essas
páginas mais molares na qual venho escrevendo do vivido no doutoramento, mesmo
que tenham sido elaboradas de forma a tentar quebrar a linearidade e a
centralidade do autor, estão sendo um exercício desafiante, pois aprisionam a
escrita em sua dimensão comunicante, apoiada em noções de coesão e coerência
que perdem sentido e potência na dimensão do trabalho que se pretende
empreender. Por isso, a opção de permanecer nesse viés comunicativo por algum
tempo deve ser entendida como uma configuração passageira, provisória, apenas um pouco de possível.
A inteligência vem
depois...
(Adaptado de DELEUZE, 1976/2003, p. 21)
10 FUI AO ARMARINHO: HÁ DE SE FALAR
DE UMA METODOLOGIA
Todo método é uma
ficção
(Barthes citando Mallarmé)
Vou
falar, mas ainda não sei bem dizer disso, tá? Uma coisa que eu estou tentando
elaborar para dar língua à questão metodológica no projeto de qualificação é a
forma como atuo na escrita. Dizer disso para descrever uma espécie de
metodologia de escrita. Por enquanto
estou apelidando esse procedimento de Fui ao armarinho. Então é assim: fui ao
armarinho, quase todo mundo sabe o que é um armarinho, mas explico: é aquela
loja que vende artigos para artes-manuais: botões, linhas, fitas, lãs, essas
coisas. Bem, quem vai ao armarinho, muitas vezes, nem sabe o que vai fazer
ainda. Tem aquela potência do fazer movendo, parece uma coceira que dá na mão,
no corpo todo. É uma vontade forte, sabe? Se quer fazer algo. O primeiro
momento é o fazer: se tem de fazer algo: bordar, costurar, tricô, crochê, não
importa, qualquer trabalho-manual. Aí, se vai ao armarinho e sai de lá com um
mundo de coisas que nem se sabe se vai combinar uma coisa com a outra. Faço
assim: eu pego aquilo e espalho. Espalho tudo. Preciso de muito espaço. Espalho
normalmente no tapete da sala, em cima da cama. Espalho aquilo. E a partir
daquilo que está bem espalhado, aí eu vou construindo o objeto. O movimento de
construção vem antes da ideia. A ideia vem depois, do contato com os elementos:
tecidos, fios, lãs, essas coisas. Vou movimentando, olhando aquilo, separando,
juntando. Aí, desse contato, a ideia vem. Foi assim desde o projeto de
pesquisa, eu fui ao armarinho. Não tinha a menor ideia de como escrever o
projeto. Aí, peguei tudo que eu tinha lido, livros, apostilas, teses. Peguei
tudo que me afetava e espalhei. Fiquei mexendo naquilo, vivendo com aquilo uns
dias. Dormindo no meio daquilo, sabe? Tudo espalhado em cima da cama. Aí,
depois eu fui pegando e escrevendo, copiando, lia uma coisa, aquilo me dizia,
eu escrevia, e isso foi compondo. Eu não tinha percebido essa metodologia, só
vi agora que estou às voltas com o projeto de qualificação, olhando para todo
esse processo de doutoramento. Pensando bem, é sempre assim mesmo comigo,
primeiro eu mexo, depois eu penso. Um perigo. Para escrever a qualificação,
também estou fazendo isso. Primeiro eu imprimi tudo o que eu escrevi, desde que
resolvi fazer o processo seletivo, duzentas e tantas páginas, sessenta e um
textos. Depois, eu comecei a mexer naquilo, andava com aquela pilha de textos
para cima e para baixo, fazia levantamentos, assinalava palavras recorrentes,
juntava de um jeito, de outro. Fui mexendo, mantendo contato, ficando presente.
Acho que se eu precisar mudar o nome da metodologia, para um nome mais
acadêmico, vai ser algo como “metodologia do contato-improvisação”, sabe aquele
método de dança? Ou então: “metodologia da presença”. Afinal, é só o que eu
posso garantir: ficar na presença daquilo, o resto é um risco, se vier, vem
depois...
10.1
Qualquer entrada é possível: desde que as saídas sejam múltiplas
O
meu plano é continuar nos intervalos...
(WOLF,
1941/2008)
Nos experimentos de pesquisa
apresentados neste projeto, propôs-se um investimento no intensivo do
encontrar-escrever. Abertura ao intempestivo potencializador de corpo e
escrita. Escapamento de uma certa pesquisa que se dá como intelectualidade
aprisionante. Vazão de uma certa escrita acadêmica que se dá como aparelho
esterilizador. Intentou-se bordar a pesquisa com pontinhos miúdos e delicados,
mas manchá-la de sangue e espalhá-la pela cama. Espalhá-la pelo corpo todo.
Invaginá-la. Dilatar a fronteira entre a pesquisa e a vida. Uma vida qualquer.
Fazer da pesquisa um lugar comum. Desdeusá-la. Incertá-la. Aproximá-la da carne,
no exercício de um pesquisar sentível. Um pesquisar de tato. Pesquisar de mão.
Instituir uma erótica-escrita junto à pesquisa acadêmica. Desanestesiar.
Inventar escrita-pesquisa movente, intranquila, no aparente calmo espaço do
fazer manual das artes domésticas. Expor a tecelã Penélope incrédula,
contaminada pelo que não é, pelo que não sabe. Desvesti-la de uma fantasia
milenar. Desfazer-se do mito, no movente do cotidiano. Projeto de qualificação
constituído na habitação de abismo conhecido. Incertar-se na intranquilidade do
mesmo. Desiludir-se do aparentemente simples. Projeto de qualificação como
exercício de montagem. Desordenação de viveres. Inventação de sentidos para o
vivido no pesquisar-escrever. Imaginamento de tese que justifica o vivo. Abuso
de artifícios, alegorias, acessórios na incompetência em constituir
projeto-grito. Radicalidade expressiva. Investigação de impossíveis.
Apontamentos de escrita em despotência minoritária, em despotência feminina. Um
feminino-pesquisar menor. Muito menor. Inresistente. Disparar escrita-manual
carnada nas experiências de corpo, de corpo em contato com o cotidiano mais
comum. Corpo em contato com a caixinha de costura, com o agulheiro de flor.
Mãos que se roçam, língua que se dá. Dar língua, cor. Pintar o vivido com a voz
da pesquisa. Pintar a pesquisa com a voz do vivido. Aproximar-se do proibitivo
ser da impesquisa, do inacadêmico. Exercícios de limiar. Exercícios de borda.
Pesquisar ensaiar pesquisar ensaiar pesquisar ensaiar. O pesquisar e escrever
no primeiro ano de doutoramento como um ensaio. Exercícios de laboratório para
colocar o corpo em movimento. Esfoliar a pele para torná-la sentinte. Ocar o
corpo para vibrar em campo. Abrir-se ao campo e pesquisar educação com o útero.
Útero-entrada. Útero-saída. Útero-porta. Mistura de sangue pisado, vida que
nasce, dejetos. Fazer desuso de um pesquisa-educação esterilizada. Agora,
abrir-se às incertezas de uma outra etapa da pesquisa. Descobrir um lugar e
habitá-lo provisoriamente. Resistir a inventar funções, paraquês. Agora,
abrir-se ao campo e encontrá-lo. Dar-se ao campo. O resto se faz com gritos...
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