Inscrições Abertas em caráter de lista de interesse.

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Inscrições abertas (clique na imagem) em caráter de lista de interesse. Previsão de início: abril de 2014.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Fiar a escrita na Universidade Federal de Juiz de Fora

Rede Sol
(Texto coletivo dos participantes, aberto à redação)



E começam as oficinas ou algo que assim é chamado. Rede sol: uma jovem índia que precisa se casar tece. Um manto é tecido.
Um grupo vai sendo tecido. Grupo de estudos sendo tecido oficinas.
Uns seguram um fio de pano que é segurado por mãos que seguram que é segurado. Da ponta, dada à mão, começa um fazer: por cima, por baixo, entre dois.
Por cima, por baixo, por cima, por baixo uma história de uma jovem índia que precisava se casar e uma história de um manto tecido em tecimento de teia que veste um corpo para as provas e lutas.
Junto às mãos que seguram, às mãos que tecem, mãos que escrevem tecem textos palavras, textos desenhos.
Teia tece modos de fazer, tece histórias da vida, de apresentações, de si, de escolas. Tece textos ditos. Música tece teia.
Nós amarram e tornam possível que a teia continue sendo tecida, que o sol irradie mais além.
Menina amarra professora, professora amarra saberes, professora esquece de amarrar. Menino se encanta, brilho no olho, fazer com as mãos, amarra avô que faz com que criança e brinquedo, brinquedo e criança, criançabrinquedo deixem um tempo de se encantarem. Roça tecida por mãos de marcenaria que tece na madeira carro de boi. Menina faz e fala e faz enquanto fala e fala enquanto faz e amarra professoras em suas teias. Teia sol amarra braços, mãos, pernas, joelhos, calcanhares, lordoses, idades. Fazer com as mãos, com abaixamentos, com levantamentos, com mortos, com vivos, com bocas, com tecidos, com. É como se o coração saísse do peito e se pusesse na sola do pé. Nessa amarração, amarra o invisível. Cama de gato roda com sol roda com ciranda roda com criancices. Teia de aranha que estranha a língua que inventa outra língua que chama pelo nome outra língua. Aranha amarra professora na teia e teia na professora.
Sol no alto, teia no teto.


A teia é o objeto da aranha.  A aranha tece sua teia a partir da produção de fios de seda pelas diversas glândulas (existem 7 tipos, que nunca ocorrem na mesma aranha), localizadas no abdome do animal. Ela começa a tecer com um fio horizontal, que vai sendo eliminado ao mesmo tempo em que vai sendo transportado pelas correntes de ar. Quando a extremidade livre encontra uma superfície, a aranha estica o fio e o prende numa extremidade oposta. A partir da metade desse fio ou de outro, que ela tece paralelamente, a aranha desce numa linha reta, esticando-o e tecendo outro fio, na vertical. Forma-se então uma estrutura que lembra a letra Y. A seguir, a aranha pode acrescentar novos raios, sempre do centro para a periferia. Depois, ela começa a construir uma espiral provisória do centro para a periferia no sentido horário. Depois, da periferia para o centro e no sentido anti-horário, a aranha começa a tecer a espiral definitiva, denominada de espiral de captura. Enquanto tece esta última, ela desfaz a espiral provisória; ou então ela pode tecer a definitiva entre as voltas da provisória e no final desmanchar esta. Finalmente ela constrói um refúgio no centro da "renda", onde fica abrigada à espera de sua presa. Não aprendemos com a teia. Não aprendemos com o objeto. Aprendemos em movimento aranha. Tomemos cuidado para não ficarmos presos nas teias. Tomemos cuidado para não nos prendermos por muito tempo às  teias. Tomemos cuidado para não ficar muito tempo admirando a teia enquanto a aranha arranha jarro. Tomemos cuidado para não ficarmos no objeto, quando é o movimento que produz, mesmo que o movimento esteja no objeto. Tomemos cuidado para não fixar na teia, porque a aranha é rápida e faminta. Ela está atenta ao movimento da teia e o bote pode ser certeiro, o veneno pode causar desde dores fortes, priapismo, necrose de tecido ou até morte do organismo. Como o espaço entre os fios depende do tamanho de suas pernas, o tamanho total da teia de captura é proporcional ao tamanho da aranha. A espiral de captura, ou mesmo toda a teia, pode ser substituída toda noite, ou dentro de poucos dias, o que ocorre quando a teia perde a sua elasticidade, ou quando o vento ou um inseto qualquer a destrói ao ser capturado ou ao se libertar. Atenção de aranha. Não presos na teia. A professora na teia. A professora que pensava ter que aprender para ensinar. Pega nas teias das casas abandonadas e miticamente assombradas do aprender-ensinar ou no entre os móveis de quinquilharia do ensino-aprendizagem. A professora que aprendeu aprender para ensinar. A professora que precisava aprender um objeto para ensinar. Ao chegar em sala de aula, a professora, depois de ter aprendido para ensinar, tenta ensinar, acha que ensina, se perde. A professora tenta ensinar como acha que aprendeu. A professora ensina a fazer o objeto como aprendeu. Se o aluno faz como a professora tentou ensinar, vualá, bote certeiro da viúva negra, que mata seu amante ao sugar todos os líquidos, fluidos e fluxos de vida para ovulação. Depois, morte do amante. Os alunos não aprendem a fazer o objeto da aula. Aula tem objeto? O aluno não faz como a professora tentou ensinar. O aluno não sabe fazer como professora. O aluno faz como aluno, aprendendo. A professora faz como professora, ensinando. O aluno não faz do mesmo jeito da professora o objeto da aula. Mas talvez o objeto da professora e o objeto do aluno não sejam tão diferentes: aprendizagem. Já os objetivos, viiixxiiii... O objetivo da professora não é alcançado. Mas o aluno ao não aprender o que professora tentava ensinar, faz outra coisa. Outro objeto? Não. Pegando alguma coisa entre o que a professora pensava ensinar, o aluno aprende a fazer outra coisa, no mesmo objeto que professora pensava ensinar. O aluno faz outra coisa com o que a professora pensava fazer uma única coisa. O aluno traça linhas entre as linhas da professora. Emaranhado de linhas. Professora amarrada? Talvez. Mas a fuga é sempre possível ou é sempre preciso. Há tantos fios na meada. Professora emaranhada na teia dos possíveis. Aluno emaranhado na teia dos possíveis. Outras relações possíveis. O aluno aprende ao aprender outras coisas, ignorando que é preciso aprender para ensinar. O aluno ensina ao aprender. A professora que pensava aprender para ensinar aprende ao ver o aluno aprendendo. A professora que pensava precisar aprender para ensinar aprende que é possível aprender aprendendo. Aprende a fazer outros possíveis entre as linhas que tentava prender para ensinar. Ensina aquilo que nem sabia fazer. Porque não é o objeto que o aluno apreende, mas aprende no movimento produzido com o objeto. Movimento que inventa objeto no emaranhado de linhas. Objeto que se inventa em movimentos para inventar outro objeto. Mas talvez aula nem tenha objeto, aula tem movimento, movimento de linhas, de emaranhado de linhas que ora amarra, ora embaraça, ora escapa, escorre e corre pela sala na alegria do movimento de aprender. Nem precisa ensinar. Professora em movimento aluno. Professora em devir aluno. Aluno em devir aluno. Professora e aluno aprendendo enquanto aprendem. Emaranhado de aprendizagens.


A aranha tece sua teia a partir da produção de fios de seda pelas diversas glândulas (existem 7 tipos, que nunca ocorrem na mesma aranha), localizadas no abdome do animal. Ela começa a tecer com um fio horizontal, que vai sendo eliminado ao mesmo tempo em que vai sendo transportado pelas correntes de ar. Quando a extremidade livre encontra uma superfície, a aranha estica o fio e o prende numa extremidade oposta. A partir da metade desse fio ou de outro, que ela tece paralelamente, a aranha desce numa linha reta, esticando-o e tecendo outro fio, na vertical. Forma-se então uma estrutura que lembra a letra Y. A seguir, a aranha pode acrescentar novos raios, sempre do centro para a periferia. Depois, ela começa a construir uma espiral provisória do centro para a periferia no sentido horário. Depois, da periferia para o centro e no sentido anti-horário, a aranha começa a tecer a espiral definitiva, denominada de espiral de captura. Enquanto tece esta última, ela desfaz a espiral provisória; ou então ela pode tecer a definitiva entre as voltas da provisória e no final desmanchar esta. Finalmente ela constrói um refúgio no centro da "renda", onde fica abrigada à espera de sua presa. Como o espaço entre os fios depende do tamanho de suas pernas, o tamanho total da teia de captura é proporcional ao tamanho da aranha. A espiral de captura, ou mesmo toda a teia, pode ser substituída toda noite, ou dentro de poucos dias, o que ocorre quando a teia perde a sua elasticidade, ou quando o vento ou um inseto voador a destrói.


Eu-aranha tecida com fios, tece e refugia-se no centro da teia. Nas bordas e nas espirais escapam-lhe vidas. Olhos famintos e à espreita atentam-se a tudo. Quer repousar em tua presa todo seu apetite. Quer sugar-lhe a energia. Então, espia, lá do centro, a todos os movimentos do entre. A presa, distraidamente, percorre pelos fios tecidos, como num manto de acolhimento. Desconhece o risco daquele território. Na verdade, aprecia a beleza da tecitura. Um a espreita, na expectativa do bote. Outro, destraído em meio ao encantamento. Um fará do outro o alimento. Outro saciará fome do um. Feito alimento, perdida a vida. Morte instalada, vida sugada.



...Vida sugada, vida revirada, vida ressignificada, mas sempre vida viva. Vida movimento, vida que se faz e se refaz no fluxo... Desdobrando as dobras desse texto e tentando continuar a tecer a travessia por caminhos diversos e  de diversos encontros. Encontro Travessia, marcado por desdobramentos inesperados. Compreendendo que  “A dobra exprime tanto um território subjetivo quanto o processo de produção desse território, ou seja, ela exprime o próprio caráter coextensivo do dentro e do fora. A dobra constitui assim tanto subjetividade, enquanto território existencial, quanto a subjetivação, entendida aqui como o processo pelo qual se produzem determinados territórios existenciais em uma formação histórica específica” como nos diz Rosana N. da Silva, em seu texto : A dobra deleuziana: políticas de subjetivação. … Na dobra ou desdobra dessa teia, no dentro e no fora da produção do texto está o ser em formação, emaranhado em teias que se constituem no movimento da vida vivida. Dentro  da dobra, da teia, o processo de formação de professores e todas as questões que perpassam  essa formação.  Como por exemplo, como professores se formam enquanto formam seus alunos? Dentro, os métodos e processos de ensinar e de aprender…. dentro os mesmos caminhos, dentro as mesmas rotas de ensinar e de aprender…dentro a didática a metodologia, o conteúdo. Fora a formação da subjetividade do sujeito em constante formação ética ,estética e política.  Fora a dobra da teia, questões levantadas de como formar-se  professor. Fora, essa formação de subjetividade que pode ser compreendida como uma formação existencial, singular e que é constituída de relações tecidas no campo da coletividade, mas que aí não pode ser fixada pois que é devir, é tornar-se  imprevisibilidade. É estar em condições de emergir de si mesmo porque é potência.  

Tornar-se professor no movimento da vida vivida. Vida em força e fluxo, que tece teias de significados, pontentes de saberes outros, que estão fora, que vazam, que perpassam de dentro pra fora, o sistema organizado, o currículo dado e certificado, os resultados das avaliações, a escola como a conhecemos, para constituir rearranjos outros no processo de formar-se professor, no processo de ensinar e no processo de aprender. E que como a teia, sempre apresentará formas diversificadas, porque é vida, porque é fluxo,... é movimento,... é dobra.  Na tecitura da Teia, a composição de novos desenhos nos fios, revelam múltiplas possibilidades de estruturar a teia, assim como a formação da subjetividade do professor revelam as múltiplas possibilidades de formar-se professor, principalmente, a partir desses encontros e travessias experienciados no Travessia. Encontros e travessias que por sua natureza, suas invenções, produzem diversas e diferentes afetações a partir dos encontros compartilhado, das teias tecidas tanto coletivamente, quanto enquanto sujeito, indivíduo, uno.  E algumas vezes surgem outras perguntas, outros fluxos que envolve e move o processo de formação.



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